Como ser feliz superando uma esperança perdida?


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Esta foi a pergunta de um leitor que tentarei responder.

O conceito de felicidade é algo absolutamente individual e subjetivo, ou seja, todos sabemos que não há receita de como ser feliz. Seja superando uma esperança perdida (a dúvida dele, contida no título), seja sob qualquer outra ótica. Não há como alguém ensiná-lo a ser feliz. O que uma boa terapia pode fazer por você é ajudá-lo a compreender por que esta “esperança perdida” parece tê-lo aprisionado a ponto de você não mais conseguir encontrar novas esperanças e novos motivos para se sentir feliz no presente.

Voltemos às reflexões sobre felicidade…

Quando pensamos que o conceito de felicidade é ainda mais amplo e envolve a sazonalidade dos nossos quereres, objetivos e as pessoas merecedoras de nossos afetos, compreendemos que muitas vezes podemos ficar presos a determinados momentos de nossa vida no quais, de fato, nos sentimos muito felizes, e o desejo de retornar àquele momento pode mesmo vir avassalador. Podemos sentir que nada no presente parece fazer frente àquela felicidade anteriormente experimentada. Por outro lado, mora uma criança dentro de nós que eventualmente fica no comando e tende a idealizar situações, sejam do passado, sejam as que imagina que virão no futuro. Nossa mente é pródiga em fantasiar, inclusive sobre experiências vividas, lembrando delas quase que como tivessem sido perfeitas, quando não necessariamente o foram. Quem de nós não lembra da dor de perder o primeiro amor, do quanto foi sofrido e das marcas que este amor nos deixou? Por outro lado, quem de nós, se pensar mais profundamente, não lembra de boa parte das incompatibilidades deste primeiro e tão marcante relacionamento? Nossa memória nos prega peças e coloca mais tintas - pro bem e pro mal- nas experiências vividas. 

Tendemos a exagerar nas sensações associadas a praticamente todas as nossas lembranças.

Felicidades perdidas fazem parte da vida tanto quanto tristezas ultrapassadas, e mesmo assim seguimos. Nossa habilidade e nossa saúde mental residem exatamente nisto: em compreender que determinadas coisas fizeram muito sentido em determinado momento, mas que tiveram seu tempo dentro de nós e que viraram passado. A alegria, o amor ou a esperança vividos abasteceram nosso coração e criaram memórias boas o suficiente para lembrarmos do quanto foi gostoso, mas sobretudo para reforçar dentro de nós a sensação do quão gostosa a vida pode ser - e pode voltar a ser. 

Ao acreditar que não se pode ser feliz por não superar uma esperança perdida é como se guiássemos um carro olhando apenas pelo retrovisor, nos recusando a olhar pra frente, pelo pára-brisas. Como se dirigíssemos focados no que já passou. Todos podemos imaginar o que acontecerá com este motorista- é mera questão de tempo para que ele não consiga conduzir o carro de forma eficiente. Ele baterá seu carro, interromperá a viagem. Com a vida é exatamente a mesma coisa.

Alguns questionamentos a mais se fazem necessários… Ao pensar desta forma, você opta por se condenar a um presente estéril? Estabelece que a felicidade jamais morará no presente? Ela esteve no passado ou, com sorte, o aguardará apenas no futuro? Ela estará sempre em outro lugar, em outro momento histórico, mas jamais estará com você ao seu lado, no aqui-e-agora? Esta forma de pensar, por si, já dá interessantes coisas a se trabalhar em um processo terapêutico. 

Os adeptos do budismo nos ensinam a compreender o conceito de IMPERMANÊNCIA, ou seja, nos ensinam a desenvolver dentro de nós a serenidade para constatar que tudo vai mudar- o que está bom e o que não está. Nada permanece para sempre, nem a dor nem a alegria. 

Para superar uma esperança perdida comece compreendendo que aquela esperança se foi, mas que para ser feliz você deve construir novas esperanças. E levar sua vida exatamente como faz um bom motorista de carro: olhando para frente a imensa maioria do tempo, focando no que está logo ali, esperando para ser vivido. Busque novas fontes de prazer, de amor e de gratificação e apenas de vez em quando olhe para o retrovisor, para o que você já viveu, para o que já passou. 

Olha-se pro passado para aprender com ele e evitar a repetição dos mesmos erros.  Olha-se com nostalgia e saudade do que foi bom e já passou, mas jamais como uma sentença de que nada mais de bom poderá vir.  Se você vive de enxergar felicidade apenas no passado, você corre o risco de se deprimir e não mais encontrar sentido para viver.

Se o passado fosse assim tão bom, ainda seria o seu presente. Algo aconteceu que isto não ocorreu, portanto olhe para o que você tem hoje, olhe pro que você deseja ter amanhã.  Busque novas fontes de esperança, de alegria e abastecimento dentro do que você pode realizar. Focar no passado como se as esperanças e a felicidade estivessem apenas nele é receita de bolo para condenar-se à tristeza, à frustração e à infelicidade. 


Ao acordar a cada manhã é como se você recebesse da vida um novo passe, um novo direito de viver mais e encontrar novas formas de ser feliz.  Não desperdice seu passe. Faça-o valer pelas próximas 24 h e renove-o a cada dia.

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