Por que ficar triste com o final de um relacionamento que já não era bom?
Por mais que o amor tenha acabado e o relacionamento estivesse árido, apenas cordial ou mesmo infeliz, aquele que dá fim ao relacionamento parece não ter recebido permissão formal para sair sozinho em busca da própria felicidade. E é comum, sim, ficar triste. Tanto quem tomou a iniciativa, quanto aquele que foi comunicado dela podem ficar um tempo velando o relacionamento que morreu.
Quando entramos em um relacionamento, por mais que não planejemos, criamos expectativas. Maiores ou menores, de curto, médio ou longo prazo, embasadas ou não em dados de realidade. Pro bem e pro mal, as expectativas nos movem e os nossos sonhos podem estar desconectados tanto dos sonhos da outra pessoa, quanto da realidade do relacionamento.
Se a qualidade do relacionamento não era boa, por que a separação pode doer tanto? Porque não se sofre apenas a perda da outra pessoa: sofre-se a perda do sonho e do projeto de vida. Pode haver o sentimento de que nada valeu a pena à medida em que o relacionamento acabou. Também dói porque é feito um processo de luto da perda de partes de você: da pessoa que você percebia que era, da vida que você conhecia e levava, da comodidade de ter alguém junto de si.
Em boa parte dos relatos de quem me procura, não houve a percepção pelo outro do quanto a relação estava desgastada e agonizante e aquele que terminou o relacionamento parece ter causado surpresa ao parceiro, que até podia vislumbrar problemas mas talvez não a sua dimensão.
Quando um casal começa a se afastar, normalmente já ocorreram tentativas de reaproximação e resolução dos conflitos. Para aquele que busca a mudança, pode ser intolerável perceber no dia-a-dia a resistência do outro, que insiste em manter as fórmulas desgastadas do relacionamento que deram origem ao cerne do conflito. Para aquele que resiste em rever suas atitudes, comportamentos e posturas, o silêncio ou o afastamento parecem ser melhor tolerados do que empreender esforços genuínos para criar novas formas de enfrentamento. Para este, “o tempo tudo resolverá”. Para o outro, que se sente infeliz e impotente, o tempo apenas perpetuará seu sofrimento. Depois de tantos esforços e tamanha frustração, a opção de quem se sente sufocado é a ruptura.
Desejar a perpetuação de um relacionamento que não é bom também pode ser um jeito de distrair a atenção e negar o quanto pode ser ameaçador e aterrorizante estar sozinho ou começar de novo. E este apego a um relacionamento pouco gratificante, somado à percepção de que faltam forças para enfrentar a nova vida que se anuncia, podem gerar medo, tristeza, raiva e apatia. Por vezes, pode ocorrer o sentimento de estar preso numa teia em que a felicidade parece ter ido embora sem data para voltar, e, a exemplo da teia, a pessoa pode se sentir presa e sem recursos para sair daquela situação.
Quando um dos dois consegue vislumbrar saída, pode levar algum tempo até que o outro perceba o quanto o relacionamento era realmente mais uma prisão do que uma opção razoável de vida.
Quem tomou a iniciativa pode ver-se repleto de questionamentos, dúvidas e culpa. Por mais aliviado que possa estar - e até mesmo feliz ou mesmo ao lado de outra pessoa - quem encerra o relacionamento pode ter sobre si o peso de se sentir responsável pelo outro, pela família e pela tristeza de filhos, familiares ou amigos que não desejavam o rompimento.
A notícia boa é que na imensa maioria dos casos a tristeza aos poucos cede lugar a novas formas de ver a vida, a novos relacionamentos, à busca por novas experiências que tornem a vida prazerosa novamente.
Quando isso não acontece, há que se buscar ajuda.
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