Disciplina é liberdade



Ao contrário do que possam imaginar alguns, disciplina não é amarra nem prisão. Quem a exerce com competência, tem mais tempo livre pra si, pros seus prazeres e pros seus afetos.

Quantas vezes você adiou uma entrega, virou a noite por que deixou pra fazer um trabalho na última hora ou não entregou algo tão bom porque não se organizou adequadamente para pesquisar e fazer as necessárias correlações e correções que poderiam ter transformado o resultado final de bom ou muito bom para ótimo ou excelente?

A disciplina, tão naturalmente praticada no oriente, para nós, ocidentais, parece mais fruto de grande esforço do que algo natural e inerente à organização dos nossos dias. 

Logo ao nascer, nossa estruturação emocional se constrói basicamente na busca por saciar nossas necessidades de sobrevivência e por ter prazer. Um bebê - e mesmo crianças muito pequenas - não possuem a capacidade de adiar a satisfação e esperar pacientemente por aquilo que almejam. Eles choram, esperneiam, gritam e manifestam sua frustração com as ferramentas emocionais disponíveis naquela fase do desenvolvimento. Alguns chegam a ter manifestações explícitas de raiva diante da frustração, jogando objetos longe, chutando coisas e mesmo batendo em coleguinhas ou cuidadores. Aos poucos, com o adequado contato com a realidade, é esperado que se desenvolva o aprendizado de que não teremos tudo o que desejamos e, sobretudo, não teremos necessariamente na hora em que desejarmos. Aprenderemos que um esforço deverá estar envolvido para a obtenção do que queremos e haveremos de ter de desenvolver tolerância e paciência para lidar com o tempo que determinado esforço poderá levar para converter uma ação em conquista. E é aí que as coisas podem ficar mais complicadas. De maneira imatura e infantil, podemos acreditar que o esforço e o tempo necessários exigem demais de nós ou que não é justo despender tanto esforço para obter algo que deveria vir mais facilmente. Podemos, então,   nos comportarmos como crianças que só saem do videogame depois dos pais chamarem insistentemente ou ameaçarem muitas vezes. Ou que só tomam banho depois de muitas batalhas ou ameaças de castigos e assim por diante. Quando desde cedo alguns conceitos básicos de disciplina não foram bem incorporados, rotinas e obrigações podem ser percebidas como perdas e/ou como excessivo esforço, como algo que não merecemos, e não como parte integrante do processo de obtenção de tudo - absolutamente tudo - o que almejarmos. 

Aí vem o grande pulo do gato: entender que a disciplina é aliada e liberta, não o contrário. Quando você organiza sua vida (e inclusive coloca numa agenda física o tempo que terá que dedicar a cada coisa à qual se dispõe a fazer), naturalmente vai perceber que aquilo que você imaginava que levaria um tempo enorme, frequentemente leva menos tempo do que você havia previsto. E - supresa!- costuma sobrar tempo na agenda! O que mais costuma sobrar? Um sentimento bom de dever cumprido, tempo para relaxar e fazer o que tiver vontade sem o peso de ficar se culpando por não estar fazendo o trabalho que deveria. 

Ter disciplina não quer dizer “fazer mais", quer dizer “fazer melhor". Sem disciplina, acredite, você perde. Perde paz, perde tempo, perde prazos, perde reconhecimento, perde respeito. Você já parou pra pensar que dificilmente alguém computa o tempo em que realmente dedica-se a uma tarefa? Costuma-se pensar o tempo em que estamos de corpo presente trabalhando nela. Você já parou pra pensar que o tempo em que fica pensando no que deveria estar fazendo deve ser computado como “tempo dedicado à tarefa” e que este tempo pode ser vivenciado como desgaste emocional? Que o tempo sentindo culpa deveria ser contabilizado também? Ou seja, mesmo que aparentemente você adie ou procrastine, como fica este tempo interno que os sentimentos de desconforto gerados pelo adiamento causaram em você? Você acredita sinceramente que sua diversão é de tão boa qualidade quando você está procrastinando quanto após cumprir aquilo que se dispôs a fazer? A leveza de estar se divertindo é a mesma? Você sabe que não. 

Quando você for se divertir, permita-se estar inteiro ali. Sem culpas, sem pesos pelo que deveria estar fazendo. Tenha disciplina, organize-se e faça antes aquilo que você tem que fazer e, com isso, qualifique seu tempo livre, divertindo-se e aproveitando a vida, sentindo satisfação e orgulho de você mesmo. Sorria e sinta que você se permite estar 100% ali. Poupe-se de sentir-se mal por você mesmo quando este não precisa ser o caso. Já bastam os sofrimentos que a vida nos reserva e não podemos escolher não sentir, não é mesmo?

Ah! Por último, mas bem importante: quando você for elogiar seu filho, lembre-se de elogiar mais o esforço e a disciplina do que sua inteligência. Se você insistir em elogiar apenas a inteligência, ele poderá pensar que não precisa fazer muito, afinal a inteligência é dele, nasceu com ele. O esforço e a disciplina devem ser valorizados e incentivados e farão a diferença na qualidade de vida que você e ele terão. 


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