Faça as pazes com o tédio. Ele pode levar a lugares que você nem imagina.
O tédio pode ser o motor da criatividade, do questionamento, do desassossego bom. Aquele, que leva a novas descobertas sobre si mesmo, sobre o mundo e à inovação. Não se assuste com ele. E, sobretudo, não tente preenchê-lo com comida.
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Você sabia que uma das maiores descobertas da humanidade foi desencadeadas por tédio e em pleno isolamento causado por uma doença altamente contagiosa?
Se houve um ser humano que lidou muito bem com o isolamento causado por uma doença e com o tédio causado por ela foi Isaac Newton. À época estudante da Universidade de Cambridge, Newton foi liberado da faculdade por precauções contra a peste bubônica conhecida como a Grande Praga de Londres, entre 1665 e 1666. Como muitos sabem, o tédio o levou a ficar observando uma maçã cair da árvore e, a partir daí, desenvolver a Teoria da Gravidade.
Nem sempre o tédio foi visto como problema, aliás ele pode ser um bom motor pra criatividade, para o autoconhecimento e para o desenvolvimento emocional.
Quando crianças, antes de inventarem tablets e celulares, quando estávamos entediados os diálogos eram mais ou menos assim: “mãe, não tenho nada pra fazer, estou entediada”. E nossas mães, na maioria absoluta das vezes: “estou ocupada aqui... vai achar algo pra fazer!” E lá íamos nós… Ler algum livro, convidar alguém pra brincar, brincar sozinha. Ou simplesmente deitar com as pernas pra cima no sofá e “pensar na vida”. Lembro das perguntas: “o que você está fazendo?” “Nada, pensando na vida…”. Pensa na vida, sobre a vida e a vida não era um problema. Ninguém “nos salvava” do nosso próprio tédio, era um trabalho nosso lidar com ele. Com isso, boa parte de nós cresceu naturalizando o tédio como parte inerente da vida. Hoje em dia alguns pais se sentem na obrigação de ocupar todo o tempo dos filhos e as crianças parecem acreditar que não ter o que fazer pode ser mesmo insuportável. Vemos até bebês diante das telas e crianças diante das telas muito mais do que seria o indicado porque lidar com o tédio e com a frustração não parecem mais ser opções. O ser humano, de repente, quer estar ocupado ou ser feliz 24 horas por dia.
Em que momento esqueceu-se que a frustração leva à elaboração das perdas e o tédio move nossa criatividade?
O tédio pode nos levar a pensar mais profundamente sobre temas que merecem nossa atenção e dos quais a correria da vida nos distrai. Pode nos levar a mais autoconhecimento, a sermos mais criativos, reflexivos, ponderados. Por que ele precisa ser necessariamente um problema do qual precisamos nos distrair? Que receio é este de entrar em contato consigo mesmo e com os próprios pensamentos? Por que se distrair o tempo inteiro parece melhor opção?
São tantas as possibilidades de reflexão que poderíamos discorrer por horas, mas o ser humano parece mesmo precisar se distrair de si mesmo. A questão é por que e para onde isto nos leva.
Se o interior é rico, mergulhar nele pode ser muito prazeroso. Se não for, enriquecê-lo sempre parece melhor opção do que simplesmente fugir de olhar pra dentro de si mesmo e encarar os próprios fantasmas.
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