Homem galinha e homem solitário: será que eles podem ter algo em comum?
Existem pessoas de todos os tipos, existem formas variadas das pessoas se relacionarem – ou de se defenderem do medo de ficar vulnerável ao estar em um relacionamento.
Neste artigo, abordarei dois tipos com os quais nos deparamos com alguma frequência: o homem que está em um relacionamento supostamente monogâmico mas trai a parceira e o homem eminentemente solitário, que opta por não estabelecer relacionamentos amorosos.
Será que estes dois podem ter algo em comum?
Mesmo que não atuem sua infidelidade, alguns homens comprometidos costumam flertar com outras mulheres. O tipo sobre o qual falarei pode até não ser infiel, mas é desleal.
Em tempos de internet, este homem costuma mandar mensagens sedutoras para outras mulheres, fazer comentários dúbios em perfis femininos, pode chegar a marcar encontros (aos quais pode comparecer ou não), mostrar-se sedutor, galante e disponível para deixar encantada a mulher que ele assedia (ou por quem é assediado). Paradoxalmente, pode ser gentil e mostrar-se apaixonado no convívio com sua parceira , que pode não imaginar que um parceiro tão amoroso flerte com outras mulheres. Este homem faz uma interpretação distorcida da realidade e se imagina com um “privilégio especial”: ele demanda fidelidade de seu par, mas se permite ser infiel. Sem culpa, sem remorsos, sem propor abrir o relacionamento para que ela também possa escolher se quer outras pessoas em sua vida ou em sua cama. Machista de carteirinha, ele mantém o privilégio como apenas dele.
Talvez por acreditar que o relacionamento não vai durar, pensa que é melhor ter na manga um plano B. Como é ansioso e descrente, talvez tenha um plano C, um D e até um E. Este homem profetiza a separação e gesta antecipadamente o final, tentando aliviar seus efeitos e negar um futuro sofrimento. Ao escolher bancar o profeta sobre o final de um relacionamento que poderia, sim, durar e ser gratificante, ele pratica o autoboicote atuando através de uma defesa maníaca: o fenômeno da metralhadora giratória. Atira para todo lado, sem alvo definido e sem foco. Puro barulho e estrago. Fere quem estiver à sua volta, machuca muita gente. O resultado emocional? Ansiedade, vazio, sofrimento, perda e ressentimentos.
A metralhadora giratória não se desliga sozinha e só faz vítimas, ela não ganha batalhas.
O homem solitário, que opta por não mais se relacionar afetivamente, pode ter tido um ou mais relacionamentos longos ou relativamente longos. Também teve sua carga de sofrimento. E desistiu. Refugiou-se em sua suposta zona de conforto.
O que ambos têm em comum? Sua descrença. Ambos acreditam que relacionamentos estão fadados a não serem gratificantes com o passar do tempo. Ou eles vivem eternamente apaixonados, no frisson da paixão e da conquista, ou a relação perde o brilho. Eles não parecem entender que manter a chama acesa é trabalho de casal e trabalho de uma vida. Ambos estabelecem o que em psicologia chamamos de profecia autocumpridora: boicotam-se por antecipação. Um faz uso da conquista compulsiva como defesa antecipatória para evitar o sofrimento. O outro refugia-se no vazio da solidão.
O "galinha" sabe que somos seres sociais e acredita que pode estar na próxima mulher a completude de sua felicidade (ou no sexo novo e fantástico que o fará se sentir vivo, potente e pulsante novamente). O solitário esqueceu o quanto a presença de uma pessoa em sua vida pode ser especial.
Por mais paradoxal que pareça, ambos podem acreditar no conto de fadas e na metade perfeita da laranja: o galinha a busca incansavelmente na mulher seguinte ou nas lembranças de um relacionamento do passado; o solitário, a exemplo da Branca de Neve, parece adormecido à espera do beijo salvador.
Ambos utilizam-se do pensamento mágico, uma das formas mais primitivas do ser humano funcionar emocionalmente. Nenhum dos dois consegue construir e manter um relacionamento maduro com uma parceira, já que o medo ganha disparado como o parceiro escolhido por ambos.
A diferença cabal entre eles?
O solitário nega sua necessidade de se sentir amado. O "galinha" a encobre através da fantasia puída de macho conquistador.
O homem que flerta e trai compulsivamente não forma vínculo verdadeiro e, assim, não possibilita real intimidade. Ele não relaxa e fica sempre olhando em volta, acreditando que a próxima mulher haverá de ser melhor, haverá de amá-lo mais. O outro, aparentemente relaxado, relaxou de si. Desistiu de acreditar em sua capacidade de amar e se fazer amar.
Tanto o homem que busca incansavelmente diferentes mulheres quanto o homem que aparentemente desistiu da busca parecem ter esquecido que relacionamentos não vêm prontos – eles exigem esforço e "musculação mental".
Não querer relacionar-se ou fazer uso da compulsão por novas (ou antigas) conquistas são sintomas e não solução.
Somos, sim, seres sociais. A outra pessoa pode agregar e trazer ainda mais alegria e completude à nossa vida, mas jamais deve ser a responsável por nossa felicidade.
Talvez este seja o maior equívoco que gere este medo todo. A outra pessoa deve ser um delicioso complemento. Só isto – e tudo isto.
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