Você confunde Gaslighting com Stonewalling? Entenda as diferenças.





Gaslighting e stonewalling não são a mesma coisa, mas ambos podem causar estragos em um relacionamento. É crucial entender a diferença entre esses dois comportamentos para que você possa decidir como reagir quando ou se eles aparecerem no seu relacionamento.


O que é gaslighting?

Gaslighting é uma forma de abuso emocional.

Envolve manipular a percepção da realidade de alguém, deliberadamente fazendo com que duvide de sua sanidade, pensamentos, sentimentos e memórias. Essa forma insidiosa de abuso emocional pode levar a muita insegurança, ansiedade e dúvidas sobre a própria estabilidade mental.

O termo se origina da peça “Gaslight”, escrita por Patrick Hamilton em 1938. É a história de Bella e Jack, ambientada na Londres de 1880. Desde o início, os espectadores percebem que Jack não é uma boa pessoa. Ele flerta com funcionários na frente de Bella, sai de casa sem explicação e é geralmente rude e desdenhoso. À medida que a peça avança, descobre-se o desaparecimento misterioso de uma cantora de ópera (que morava no andar de cima). Jack começa a procurar as joias da estrela e age de forma incrédula quando Bella menciona que ouve passos no andar de cima. A trama se complica quando Jack começa a acender e apagar aleatoriamente as luzes de gás, e depois nega, tentando convencer Bella de que ela está louca. O comportamento de Jack é deliberado e intencional. Ele não só mente para Bella, mas mente com a intenção premeditada de desestabilizar sua sanidade mental. Isso é gaslighting.

Gaslighting é um tipo de manipulação psicológica onde uma pessoa faz com que a outra duvide da própria percepção, memória ou sanidade. O manipulador distorce fatos, nega acontecimentos óbvios e faz com que a vítima se sinta confusa ou culpada, levando-a a questionar a realidade.

Exemplos de gaslighting:

“Você está exagerando, isso nunca aconteceu.”

“Você está louca, todo mundo vê isso, menos você.”

“Eu nunca disse isso, você está inventando coisas.”

É um padrão muito comum em relacionamentos tóxicos e abusivos, seja entre casais, familiares ou até mesmo no ambiente de trabalho.


O que fazer se houver gaslighting no seu relacionamento

O abuso emocional precisa ser levado muito a sério e requer avaliação e intervenção imediata de um profissional de saúde mental. Se você acredita que seu parceiro está consistentemente e deliberadamente tentando fazer com que você se sinta fora da realidade, recomendo buscar ajuda.


O que é stonewalling?

Ao contrário do gaslighting, stonewalling é um mecanismo de defesa disfuncional, desadaptativo, e não uma forma de abuso emocional. É um termo usado pelo psicólogo e estudioso de casais John Gottman para definir um dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, que são os padrões de comunicação preditivos de divórcio. Sua pesquisa indica que stonewalling leva à insatisfação no relacionamento, separação e divórcio. Stonewalling pode ser traduzido por “parede de pedra” e é um comportamento caracterizado por um parceiro se afastando da interação, desligando-se emocionalmente e interrompendo a comunicação.

Quando alguém está praticando stonewalling esta pessoa parece indiferente e geralmente tem uma expressão vazia no rosto. Pode parecer insensível ou desinteressado. Pode ser mesmo muito doloroso ver no rosto de seu parceiro o que parece ser uma reação sem qualquer emoção, especialmente se você estiver sendo emocionalmente vulnerável. Você pode se perguntar se seu parceiro está ouvindo ou se importa com o que você está sentindo, se ele ou ela se importa com você.

Mas stonewalling não é o que parece.

O que sabemos pelas pesquisas é que quando alguém está praticando stonewalling, embora possa parecer calmo por fora, internamente está em estado de luta, fuga ou paralisia. Stonewalling é a reação de paralisia ao perigo percebido. As frequências cardíacas estão bem acima de cem batimentos por minuto, acompanhadas de dificuldade para respirar, tensão muscular e pânico interno. A pessoa está sentindo um turbilhão de sensações e fazendo um esforço imenso para não demonstrá-las porque não sabe lidar com ela.

Stonewalling é um padrão de comportamento em que uma pessoa se fecha completamente em uma conversa ou conflito, evitando qualquer tipo de engajamento emocional. É uma forma de bloqueio emocional e pode ser extremamente frustrante para o parceiro, pois impede a resolução dos problemas.

Exemplos de Stonewalling:

Silêncio total – A pessoa simplesmente para de responder, cruzando os braços, desviando o olhar ou fingindo que não está ouvindo.

Exemplo: Você tenta conversar sobre algo importante e recebe apenas silêncio como resposta.

Mudar de assunto – Sempre que um tema difícil surge, a pessoa troca de assunto para evitar a conversa.

Exemplo: “Vamos falar de outra coisa. Você só quer brigar.”

Sair do ambiente – A pessoa se levanta e sai da sala no meio da conversa sem explicar ou dizer que precisa de um tempo.

Exemplo: Você está tentando resolver um problema e o parceiro simplesmente sai de casa ou vai para outro cômodo sem avisar.

Fingir que está ocupado – A pessoa começa a mexer no celular, assistir TV ou fazer outra coisa enquanto você fala, sem dar atenção.

Exemplo: “Eu não tenho tempo pra isso agora.” [Enquanto continua mexendo no celular]

Respostas curtas e frias – Responde de forma vaga e desinteressada para encerrar a conversa sem resolver nada.

Exemplo: “Tá bom.”, “Sei lá.”, “Faz o que quiser.”

Recusar contato visual e expressão fechada – Evita olhar para o outro e mantém uma postura rígida, transmitindo desinteresse e frieza.

Exemplo: Enquanto o parceiro fala, a pessoa olha para o chão, suspira e não reage.

Dizer que está muito cansado para discutir – Usa desculpas repetitivas para evitar qualquer conversa difícil.

Exemplo: “Agora não, estou exausto. Falamos disso outro dia.” (Mas nunca falam de fato).

Por que o stonewalling é prejudicial?

• Faz o parceiro se sentir ignorado, frustrado e emocionalmente abandonado.

• Impede a resolução de conflitos, acumulando ressentimentos.

• Cria um distanciamento emocional no relacionamento.

O que fazer se seu parceiro faz stonewalling?

Em vez de pressionar, tente dizer algo como:

“Percebo que você está se fechando. Podemos fazer uma pausa, mas depois precisamos falar sobre isso.”

Se o stonewalling se tornar frequente, pode ser um sinal de problemas mais profundos na comunicação do casal.


O que fazer se houver stonewalling no seu relacionamento

A solução para o stonewalling relacional é simples em conceito, mas difícil de praticar no dia a dia. Há apenas uma coisa a fazer: fazer uma pausa. Dar um tempo.

É emocionalmente perigoso continuar a conversa quando uma ou ambas as partes estão sobrecarregadas emocionalmente. Se você continuar falando, você ou seu parceiro podem fazer e dizer coisas das quais se arrependerão. Quando você faz uma pequena pausa, ambos podem respirar, cuidar de si mesmos e depois voltar à conversa quando estiverem calmos. Geralmente, um parceiro quer continuar falando enquanto o outro pode estar precisando desesperadamente de espaço. Para que uma pausa seja eficaz, ambas as partes precisam se comprometer a desconectar e depois reconectar. Quando vocês aprendem a fazer isso no relacionamento, podem evitar a dor desnecessária que ocorre ao continuar uma conversa improdutiva.


Passos de bebê, dia após dia

Leva tempo para reduzir o stonewalling no relacionamento, mas é possível. Seja paciente consigo mesma(o) e com seu parceiro enquanto trabalham para implementar essa estratégia. Lembra do ditado antigo sobre colocar água fria na fervura? É sobre isso.

Quando pelo menos um está se sentindo fora de si, exausto pela discussão ou desgastado pelo tema, combinem uma técnica para esfriar os ânimos. Façam uma pausa de 15 a 20 minutos, e depois retomem a conversa. Neste intervalo, respire fundo e tente entender o que mexeu tanto com você a ponto de tirar você do sério. Mas lembre: é como treino, tem que ter prática. Você fica bom fazendo.

Comece já e pratique sempre que sentir que internamente você está um turbilhão emocional, mesmo que por fora você possa estar com cara de rainha da Inglaterra.




Denise Lahutte