COVID-19: Como lidar com o fato de estar em outro país sem o apoio da família?


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As dificuldades cotidianas de isolamento, insegurança e medo causadas pela pandemia do coronavírus podem se somar à fragilidade emocional que de tempos em tempos costuma acometer quem mora fora de seu país, exacerbando o sentimento de estar só e desamparado. Não há como tratar de questões tão profundas apenas em um texto, mas vou tentar dar algumas dicas de recursos e ferramentas para serem implementadas neste momento. 

Em primeiro lugar, estar só não deve ser sinônimo de solidão. Distanciamento físico é bem diferente de distanciamento emocional. Somos seres sociais e precisamos de contato. Tente trazer as pessoas que você ama pra perto de você neste momento tão complicado que estamos todos vivendo. Você só estará sem apoio da sua família se você se afastar deles ou eles de você. Busque-os. Nunca tivemos tanta tecnologia disponível para isto. Faça chamadas para seus familiares, dê notícias e receba notícias. Divida seus medos e inseguranças, peça dicas e opiniões, traga seus afetos para perto de você. Ouça os medos e receios deles, conte os seus… E saiba que mesmo aqueles que disserem que está tudo bem e que estão tranquilos se identificarão as verbalizações dos que estão inseguros e com medo. Estamos todos neste mesmo barco. Após fazerem as atualizações de ambos os lados, tente também conversar sobre outros temas, não fale apenas sobre o corona. Converse de preferência por vídeo, para ver e ser visto. Peça pros seus familiares aparecerem, eventualmente chame as crianças. Tente saber o que eles estão fazendo para ocupar seu tempo, receba e dê sugestões e tente levar a situação com a leveza que você conseguir. Não, a situação não é leve, mas sempre podemos dar maior ou menor peso a tudo na vida. Numa pandemia não é diferente.

Como você provavelmente está isolado e proibido de sair de casa (exceto para comprar artigos de primeira necessidade), lembre de manter atualizados os contatos das pessoas que você já conhece em seu novo país. Estas pessoas podem ser particularmente úteis não apenas para aplacar a solidão e para trazer um senso de mais normalidade à sua vida, mas para criar uma rede de mútuo apoio em caso de necessidade. Todos estão passando pelo mesmo que você, sobretudo pelas mesmas regras de reclusão/isolamento do país ou da região em que vivem e a ideia é que esta troca possa proporcionar um senso de pertencimento e identidade como o que os grupos de suporte e apoio como os AAs costumam criar. Você poderá beneficiar e ser beneficiado pela busca conjunta por amparo e apoio emocional. 

Outra coisa que sugiro que você possa praticar: oferecer-se para ajudar aos vizinhos idosos em suas compras em supermercados e farmácias. Mais do que você, os idosos devem evitar a todo custo sairem de casa. Por mais que estejamos vivendo um período de grande dificuldade, ajudar ao próximo costuma trazer uma sensação boa de satisfação e gratificação pelo exercício da cidadania, além de resolver um problema real de abastecimento que seus vizinhos idosos possam estar experimentando.

Uma coisa bem importante: tente atualizar os contatos das pessoas que você pode acionar em caso de necessidade, como no caso de você adoecer e precisar de apoio governamental ou para comprar seus próprios mantimentos e remédios caso adoeça e more sozinho.  Aqui na Europa estamos vivendo um período bem conturbado, mas observo que cada país tem seus telefones de apoio e linhas de amparo a quem necessita. Informe-se também sobre estas linhas de apoio ao cidadão e acione, se você necessitar. 

Se você domina um pouco mais de tecnologia, procure aplicativos em que pessoas “se encontram” de maneira online em tempo real para fazer aulas de yoga, exercícios, conversar sobre temas variados e até para simularem que estão em barzinhos batendo papo. Sim, isto existe. Informe-se e você ficará surpreso com a rapidez e a criatividade de algumas pessoas e empresas para lidar com a crise.

Sei que tudo isso pode ajudar, mas também sei que não funcionará para todos. Talvez você esteja tão assustado com tudo o que está acontecendo que paralise. Que fique triste, ansioso ou angustiado demais para fazer qualquer destes movimentos. Se for o seu caso, busque ajuda. Não espere adoecer emocionalmente ou que tudo se resolva de forma mágica- diante de sintomas mais complicados, as coisas não funcionam assim. Saiba ler os sinais que você sente e avalie. O isolamento pode durar muito tempo e a ideia é que você possa responder de forma minimamente saudável a ele. 

Mais dicas em meu vídeo no YouTube “Psicologia no Coronavírus - Como entender o que sentimos e tentar manter a sanidade” 

https://www.youtube.com/watch?v=ztRC2AUr6LQ

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