Não tenha medo de sentir medo, mas fuja do pânico e da negação


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Não tenha medo de ter medo. O medo é companheiro do ser humano desde os mais antigos primórdios da humanidade e graças a ele devemos nossa sobrevivência. Se algum dia perdermos o medo, aí sim ficaremos realmente em perigo.

O medo nos leva a sermos precavidos e prudentes e a não nos expormos a riscos indesejados. O medo nos deixa alertas, nos convoca a desenvolver estratégias eficientes de preservação e sobrevivência desde nossa mais remota ancestralidade. Desde que o mundo é mundo, animais e seres humanos compartilham do medo como importante sinalizador para desenvolver ações de proteção que visam a perpetuação da espécie. O medo racional, diante de um perigo real e iminente, é sinal de que nosso cérebro já processou que há um perigo envolvido e que precisa desenvolver estratégias de fuga ou enfrentamento. Assim como a dor, o medo sinaliza que algo não está bem e que devemos nos proteger para podermos ficar seguros. Diferente do pânico, que é um medo intenso e irracional baseado em crenças e fantasias, o medo é um sinalizador que nos leva a refletir sobre nossas possibilidades reais diante do perigo.

A negação do medo pode fazer com que muitas pessoas assumam comportamentos de risco, colocando suas vidas e a vida dos demais em perigo. No extremo oposto dos sintomas de pânico (mas na mesma régua que mede o medo), encontramos a negação. Ao negar o medo, há quem negue o risco e fantasie que pode levar sua vida como se nada de mais grave estivesse acontecendo. Diante de grande ameaça ou sofrimento, conviveremos com pessoas que minimizarão o perigo ou esperarão por soluções mágicas, negando ou terceirizando sua responsabilidade quando algo não sair conforme o planejado. Sim, uma pandemia costuma despertar comportamentos que se encaixam nesta descrição.

Ao longo do tempo em que estivermos expostos à pandemia poderemos observar em nós mesmos oscilações dentro desta régua: alguns dias estaremos mais confiantes, nos protegendo e acreditando que tudo vai passar. Em outros momentos mais assustados e nos sentindo muito impotentes e com um medo mais intenso. Esperemos que a negação fique mesmo fora da nossa régua, mas à medida em que o tempo passa e as soluções demoram a chegar temos que ficar atentos para a possibilidade de cairmos na tentação de banalizarmos a gravidade do que acontece e não nos protegermos como deveríamos.  Além do COVID-19, precisamos nos proteger também das influências de outras pessoas sobre a nossa própria sanidade. Não negue a gravidade, não entre em pânico, mas não tenha medo de sentir medo- o medo está sempre presente e isto é o esperado numa pandemia. O medo é um importante sinal para que você possa reagir. Não ligue se algumas pessoas rirem e acharem tudo um grande exagero.

Ao longo de toda nossa vida conviveremos com pessoas que carecem de mecanismos de defesa mais adaptativos ou inteligência emocional para lidar com a parte difícil de ser adulto, que envolve frustrar-se, sentir medo, responsabilizar-se por sua sobrevivência, proteger as pessoas mais frágeis (sim, vivemos em sociedade, não deveria ser “cada um por si”) e aprender a lidar com a realidade tal qual ela se impõe. A dor faz parte da vida tanto quanto o prazer. Negá-la ou nos desesperarmos só nos lança numa jornada de descontrole sobre importantes aspectos que poderíamos controlar.